sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Rio de sonho

Tem um mês que não consigo acesso ao site da Casa Lygia Bojunga. Meu computador não vai mais lá. Estranho, pois pedi para duas pessoas fazerem o teste de seus computadores, e acessaram o site normalmente. Uma chegou a testar várias páginas e encontrou tudo normal. Estranho ainda é o fato de eu me negar a testar o acesso de outro computador. Porque desde então tento me lembrar de uma foto que tem lá, de Lygia aos oito anos. Uma foto onde está vestida para o carnaval, com legenda contando que a fantasia foi criação dela. Queria ver esta foto para inspirar esta crônica. Talvez, porém, segundo as forças ocultas da tecnologia, eu já tenha visto o necessário: sou provavelmente quem mais acessou o endereço. Chega então de adiar, escrevo.
Aos oito anos, a futura escritora era habitante recente do Rio de Janeiro. Mudara-se da gelada Pelotas-RS para a efervescente Copacabana. Em O Rio e eu (1999), aliás, Lygia se refere a um pedaço da vida no Sul. Uma (inventada?) passadeira lhe fala maravilhas sobre o Rio. A descrição da mulher é de tal forma atraente que a menina chega a duvidar que seja verdade. Pouco tempo depois, ainda segundo o mesmo livro, é no sonho de cidade que Lygia passa a morar. Copacabana chegava aos anos 1940, e imagino o que era aquela praia.
Então, na foto que já vi bastante, a menina que se descobria carioca se cobria de uma fantasia própria. Deve ter sido uma folia e tanto. Bem de acordo com a estreia literária da autora, trinta anos depois. Os colegas (1972) é uma trama carioca, com cheiro de praia e alegria de carnaval:
Um cortando e outro costurando os pedaços de pano, a vela do barco e os trapos todos reunidos, pouco a pouco vão aprontando os paletós e as calças de palhaço. E em cada paletó que fica pronto, Latinha vai colando os botões: as bolas de gude e as de pingue-pongue também. Cara-de-pau espalha as margaridas do buquê, que Flor vai salpicando e prendendo nas fantasias com pontarecos ligeiros. Voz de Cristal e Virinha vão fabricando as cinco cartolinhas com as caixas de sapatos vazias e a cartolina conseguida. Enquanto um corta, o outro cola. E depois, cada um da turma pinta na cartola uma coisa que vem na cabeça: um sol, uma saudade, uma casa, uma onda, um avião.[1]
Em 1971, o  Instituto Nacional do Livro realizou um concurso em busca de novos autores de livros para crianças. Os colegas venceu, revelando Lygia vestida de escritora. Uma fantasia relacionada ao trabalho com as mãos, como se sabe a partir de Livro, um encontro (1988). Esta é a primeira narrativa autobiográfica da autora e é também a primeira em que ela se diz “artesã da escrita”. Eis uma fantasia poderosa, origem de outras tantas.               
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[1] NUNES, Lygia Bojunga. Os colegas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1980, p. 27.

3 comentários:

  1. Oi, minha querida!
    Sempre com saudades suas.
    Este blog está uma delícia. Há vezes em que não sei quem escreve, se você, ou ela, como o conto da cama, por ex. Talvez não esteja muito claro, mas certamente vocês têm afinidades textuais.
    Recomecei a escrever, depois de uma descida ao Hades, mas nada como Cronos para nos fazer esquecer as coisas más.
    Vou colocar também este blog nos meus favoritos, pois amo tudo o que escreve, fessora!
    Um beijo carinhoso.
    Monique

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  2. Ana, venho sempre que recebo e-mail!
    Me inspira para fazer a monografia! (Ainda que a coitada vá de mal a pior!!)
    Beijos, saudade!
    =D

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  3. Tente pedir emprestado a chave do "Era uma vez uma Chave". Vou tentar acessar também.

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É mais fácil entrar como "Anônimo" e assinar abaixo do comentário. Obrigada!